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UBS Parque do Riacho

Brasília, Brasil

“Para mí los patios son como espacios exteriores domesticados: en ellos se está en contacto con la naturaleza, se escucha el canto de los pájaros, se huele el campo después de las lluvias y se puede mirar de noche a las estrellas. Pero también son lugares que están protegidos de las corrientes de aire, aislados de ruidos. En sus corredores puedes estar mientras llueve.”

(HAGERMAN, Oscar. Oscar Hagerman. Monterrey: Biblioteca de Diseño Quórum, 2006)

A adoção de pátios

A criação de uma Unidade Básica de Saúde organizada a partir de blocos quadrados com pátios internos se apoia em uma estratégia projetual com dois focos de qualificação: o externo (espaço urbano) e o interno (humanização funcional).

A relação do lote destinado para a elaboração do projeto da Unidade Básica de Saúde (UBS) do Parque do Riacho com o espaço urbano imediato é bastante desafiadora: tanto por seu entorno fronteiriço com as linhas de alta tensão, como por seu dimensionamento, sendo mais de sete vezes maior que o tamanho destinado para o empreendimento. A parcela do terreno é de grandes proporções, principalmente no sentido longitudinal, considerando a adequação de um projeto de pequeno porte.

A estratégia da adoção de blocos térreos com pátios internos amplia a volumetria do edifício, o que permite ao projeto se apropriar das grandes dimensões do terreno, estabelecendo a legibilidade de sua relevância como equipamento público do bairro. A realização da edificação em um único nível garante a acessibilidade universal e ainda reserva uma área livre considerável para planejamento futuro, permitindo uma racional extensão modular como possível ampliação da Unidade Básica de Saúde.

Por outro lado, na relação interna, os pátios induzem a uma atmosfera introspectiva, humanizando o ambiente físico hospitalar pela criação de um microcosmo de proteção e tranquilidade. Com sua escala humana os pátios se tornam espaços exteriores domesticados, sua função é trazer luz natural aos ambientes internos através de um paisagismo controlado. São espaços protegidos das intensas correntes de ar, sombreados, isolados dos ruídos exteriores e conectados com a natureza, além de conferirem ao projeto limites claros e facilitarem a setorização.

A praça de acesso

O acesso à UBS se faz pelo Norte e aproveita da última extensão do passeio público (calçada) para conectá-lo à grande praça de acesso, reservando e isolando a área de mobilidade motorizada e estacionamento para o extremo da via. A proposta de uma praça de acesso é uma aposta por um futuro uso peatonal, qualificando o equipamento de bairro como lugar de encontro (de provável uso intenso em dias de vacinação), conferindo identidade e frontalidade ao edifício público de uso comunitário.

Humanização funcional em três blocos

Três blocos com seus pátios organizam as necessidades programáticas de acordo com a vocação de cada setor. Uma solução que oferece flexibilidade e adaptabilidade, própria para a funcionalidade hospitalar desejada. Na ausência de uma paisagem exterior urbana consolidada, cria-se uma sequência de paisagem interior na Unidade Básica de Saúde, com seus respectivos pátios humanizados de função contemplativa, paisagística e de controle térmico.

O bloco central, situado no extremo da praça de pedestres proposta, é o do acesso principal. Este é o espaço distribuidor das funções, pois a partir dele o público é conduzido para os outros blocos. Nesta ala o pátio assume uma função mais contemplativa – espelho d’água com plantas aquáticas – característica da formalidade de um espaço de recepção-informação, setor administrativo e auditório. Nele também se concentram serviços de apoio para os outros blocos, ou de atendimento mais direto ao público, como a farmácia e a vacinação.

No bloco mais afastado da rua se localiza a maior parcela do setor de atendimento clínico: triagem, consultórios e atendimento à mulher. Sendo o de maior concentração de público, o seu acesso é mais direto e suas esperas são divididas em dois setores. Seguindo o partido projetual, estes espaços são sempre posicionados no lado transversal do bloco retangular, sendo sempre abertos a um amplo pátio sombreado e arborizado. Os consultórios, em geral, acompanham o sentido longitudinal do bloco, ladeando a área central. A organização funcional ao redor de pátios facilita a setorização, minimiza os conflitos entre os setores e garante uma ambiência acolhedora a todos os espaços.

O bloco frontal, mais próximo ao estacionamento e à área de carga e descarga, incorpora os setores de apoio técnico e acesso de serviço. Neste bloco também se situa parte do setor de atendimento clínico: os consultórios odontológicos e seus espaços diretamente dependentes. Desta forma, a área de espera do público é mais reduzida, e como os outros espaços de permanência do público, é conectada e ampliada por um pátio arborizado margeado por espelhos d’água que auxiliam no conforto térmico do edifício.

Materialidade e tectônica

O edifício é projetado visando à economicidade, a modularidade e a racionalidade construtiva. As lajes são suspensas do solo, os pilares são metálicos, e o sistema de cobertura estruturado por treliças metálicas. O fechamento externo dá-se por placas pré-moldadas de concreto, elementos vazados pré-fabricados e esquadrias de estrutura metálica. O véu externo é de dupla camada: cobogós e vedações de vidros, cujo distanciamento entre as camadas permite que o perímetro dos blocos sirva como galeria de controle térmico, bem como de circulação interna entre consultórios e demais instalações. As vedações garantem uma homogeneidade de fachada e privacidade às alas de serviços. Os fechamentos internos são de dry-wall e conferem flexibilidade aos arranjos funcionais. A cobertura é em telha termo-acústica. A materialidade construtiva proposta visa a qualidade espacial e funcional da Unidade Básica de Saúde, harmonizando física e sensorialmente com os usuários e pacientes.

Estrutura

O embasamento formado por lajes de concreto armado moldadas “in loco” propostas em balanço, com vigas baldrame recuadas e em cotas verticais acima da cota do solo, além de ter papel importante no sistema passivo de conforto térmico da edificação serve de apoio a um piso elevado que cria espaço técnico para as instalações, o que facilitará possíveis futuros arranjos internos. Rampas em lajes de concreto armado interligam os diferentes níveis do embasamento nos três blocos.

Sobre o embasamento nascem pilares em tubo de aço, contraventados, que servirão de apoio para as treliças planas da cobertura a serem construídas com barras formadas pela associação de cantoneiras de aço, econômicas por receberem os carregamentos das terças diretamente nos nós e de fácil montagem; estas têm desenho ajustado à variação do pé-direito e a um telhado leve de uma água que será orientada a uma calha externa perimetral situada no ponto mais baixo do telhado, de fácil acesso para a manutenção.

Sustentabilidade e conforto

A aparência simples do projeto abriga um coerente sistema de proteção ambiental. Pátios internos mantêm piscinas de água pluvial tratada, fonte de ar fresco e úmido, além de luz fria. Já a fachada dupla (externa) funciona como véu e frasco. Externamente, um véu: cobogós horizontais resfriam e difundem a luz natural. Mais internamente, um frasco: o pano de vidro preserva a umidade e bloqueia o ruído exterior. A ventilação noturna aproveita a amplitude térmica para refrigerar paredes e lajes. A ventilação diurna admite ar refrigerado e umidificado (refrigeração evaporativa passiva), admitido junto às piscinas, à sombra de brises soleil, e do próprio volume do prédio. Tais sistemas permitem uma eficiente gestão de recursos, que dispensa o condicionamento artificial de ar.

Ano: 2016
Local: Brasília, Distrito Federal, Brasil
Área: 2.150 m2
Fotografia: Leonardo Finotti