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Centro de Ensino Fundamental Parque do Riacho

Brasília, Brasil

“Comecemos pelas escolas, se alguma coisa deve ser feita para ‘reformar’ os homens, a primeira coisa é ʻformá-losʼ.”

(Lina Bo Bardi em Primeiro: escolas, Habitat, nº4, 1951)

Construindo o lugar

Inserida numa zona de desenvolvimento urbano recente – Região Administrativa Riacho Fundo II – a área destinada para a implantação do Centro de Ensino Fundamental está delimitada na sua porção oeste pela faixa de domínio da linha de alta tensão, a norte por uma rua-estacionamento, a leste por parcelas destinadas a serviços e a sul pelo futuro equipamento Centro-Dia. O território ainda é incerto e a relação mais evidente do lote com as vias de acesso ocorre apenas pela esquina a nordeste. Ao adotarmos uma estratégia projetual que aposta na ocupação perimetral, o CEF – Parque do Riacho recria a frontalidade do lote, alongando e transformando a esquina em um generoso espaço público para o novo bairro. A intenção é que este novo equipamento funcione como um catalisador urbano, induzindo melhorias no entorno.

As escalas dos pátios

A aposta por desenvolver o programa no perímetro da parcela visa delimitar claramente o espaço público do privado, convertendo todas as áreas livres em pátios, minimizando, portanto, o uso de muros e agregando funções aos espaços residuais. A criação de pátios em diferentes escalas organiza os setores do CEF em escala doméstica e gregária, entendida como a dos pequenos pátios e a do grande pátio. A primeira serve o setor didático: uma sequência de blocos voltados a norte que conformam pequenos pátios – espaços mais reservados e protegidos – voltados à interação das turmas. Com o frescor de suas sombras, pela presença de vegetação, sua escala é própria para a concentração e aprendizagem. Em nítido contraste com o setor pedagógico, o setor de atividades e lazer assume a escala gregária do grande pátio: pé direito maior para acomodar o ginásio de esporte, zonas abertas para vivência e, sobretudo, uma ampla visualização do funcionamento global da escola.

O projeto adota um partido de economicidade e sustentabilidade, priorizando sempre os aspectos de ventilação e iluminação ideais: salas didáticas voltadas a norte e seus pequenos pátios a leste, contribuindo para o sistema de ventilação cruzada natural.

Em diferentes níveis

A escola se organiza em dois níveis: térreo e primeiro andar. O nível zero é o do acesso, da informação (secretaria, biblioteca), da vivência entre os pátios (doméstico e gregário) e dos espaços de uso comum (auditório, laboratórios e oficinas). O primeiro andar é destinado às salas de aula, distribuídas por série de acordo com a proximidade à entrada principal.

A fácil orientação é garantida pela redução da escala e distâncias para as atividades pedagógicas em geral, reservando as longas distâncias e vistas para o espaço esportivo (quadra coberta) e vivência de pátio descoberto nas áreas térreas.

Ao entrar no edifício a sensação é de acolhimento, em um pé direito de 3.20m, que conduz o aluno diretamente ao pátio coberto: espaço térreo e articulador de todas as funções da escola. Na direção da luz proveniente dos pátios a percepção sensorial é invertida: de liberação e expansão em direção ao céu aberto.

Na atmosfera expandida do grande pátio descoberto dá-se a legibilidade das principais conexões verticais: uma ampla rampa no sentido longitudinal e uma generosa escada no sentido transversal aos blocos didáticos. Nos pequenos pátios, a conexão vertical é reforçada por escadas secundárias que garantem a multiplicidade de percursos na escola e a flexibilidade de acesso aos terraços de convivência entre as salas de aula.

Materialidade e tectônica

Tendo como foco a agilidade de execução, os sistemas construtivos e estruturais propostos contemplam o uso de elementos industrializados em metal e concreto. Para o setor didático a estrutura em concreto pré-moldado segue a modulação de 7.20mX 9.40m. A proteção solar para as aberturas a norte é composta por brise-soleil horizontal em madeira.

Para os elementos de vedação se alternam as esquadrias de alumínio (salas de aula) com as de madeira (áreas comuns: laboratório, biblioteca, auditório), sendo estas últimas relacionadas aos espaços abertos do nível térreo. Os fechamentos em elementos vazados de concreto conferem privacidade e segurança nas áreas mais diretamente relacionadas com a rua. O refeitório também faz uso destes elementos em sua fachada para o pátio descoberto, neste caso os cobogós são recomendados pelos seus efeitos atmosféricos e de ambiência (conforto, luz e sombra).

A construção em estrutura metálica fica destinada à cobertura das áreas de ginásio, circulação e passarela. Concebida como um único plano suspenso que aspira à imaterialidade, este elemento metálico de perfis I’s e pilares tubulares segue a mesma modulação do bloco didático.

As áreas cobertas e descobertas do projeto estabelecem o critério para a definição dos materiais do piso: nas áreas abertas ao céu optou-se pela areia compactada (área de atividades lúdicas) e nas zonas cobertas, protegidas das intempéries, a pavimentação permite o uso intenso (de circulação e prática esportiva).

Serviços e apoio

Os blocos de sanitários para os alunos foram estrategicamente situados nos dois extremos da passarela metálica, dada a sua função de eixo de circulação vinculado ao acesso e pátio coberto (elemento articulador de todos os setores), além de espaço de transição entre o setor didático e de vivência descoberta.

Na porção oeste do terreno, a de menor possibilidade de conexão ao tecido urbano por ser vinculada ao espaço de redes de alta tensão, organizou-se o estacionamento requerido por lei (27 vagas) que visa atender majoritariamente aos funcionários e ao serviço, estando desta forma diretamente associados a estes setores: administração, refeitório e ginásio.

Estrutura

A estrutura idealizada é pré-fabricada, trazendo à construção vantagens importantes: execução rápida e sem perdas, canteiro limpo, mão-de-obra reduzida e qualificada.

Para as edificações foi proposto um sistema estrutural laje-viga-pilar de peças pré-fabricadas de concreto estrutural, com fechamentos em painéis do mesmo material. As vigas são bi apoiadas nos consolos curtos dos pilares, e lajes alveolares vencem os vãos entre as vigas apoiando-se nos consolos destas, nos pisos e na cobertura. A última laje receberá um telhado leve estruturado por pontaletes metálicos que poderá ser desmontado quando da necessidade de ampliação, que se dará na vertical, pela superposição de pilares.

As rampas de acesso ao pavimento superior, e as circulações, são estruturados por vigas metálicas de alma cheia apoiadas ora em pilares, ora em tirantes esbeltos que partirão da estrutura metálica da cobertura.

As coberturas da circulação do pavimento superior, assim como do ginásio esportivo, são formadas por vigas de alma cheia, de aço, apoiadas em pilares de tubos circulares desse mesmo material; as telhas serão metálicas, termo acústicas.

Ano: 2016
Local: Brasília, Distrito Federal, Brasil
Área: 7.400 m2